Por Hugo Passarelli | De São Paulo - O ESTADO DE S. PAULO - 12/12/2016

Nas alturas. Para 76% dos consumidores e 51% dos vendedores, preço do metro quadrado dos imóveis está muito elevado

Nas alturas. Para 76% dos consumidores e 51% dos vendedores, preço do metro quadrado dos imóveis está muito elevado

A perspectiva de que a economia brasileira vai trilhar um caminho de estabilização no ano que vem deve injetar algum ânimo no mercado imobiliário. Para especialistas e profissionais da área, mais consumidores podem voltar a fazer planos para comprar um imóvel. Dois fatores vão pesar a favor de quem está em busca da casa própria: os preços devem continuar relativamente estáveis e o custo do crédito deve baratear por causa da redução da taxa de juros.

Os dois lados da equação – compradores e corretores/imobiliárias – estão com expectativas semelhantes sobre o rumo dos negócios em 2017, segundo uma pesquisa do portal imobiliário VivaReal obtida com exclusividade pelo Estado.

Praticamente o mesmo porcentual nos dois grupos (58% e 59%) projeta um aumento da flexibilização das negociações no ano que vem, o que pode se traduzir em mais descontos no valor de venda dos empreendimentos. Para 76% dos consumidores, o preço do metro quadrado está muito elevado, impressão compartilhada por 51% da ponta vendedora.

“Em outras épocas, a percepção dos corretores em relação à necessidade dessa flexibilização era bem menor, mas a queda da procura forçou essa postura”, afirma Lucas Vargas, presidente do VivaReal.

No lado do crédito, uma projeção da Abecip, associação das instituições financeiras que emprestam com recursos da poupança, aponta que a possível aceleração no corte dos juros pelo Banco Central vai tornar mais baratos os financiamentos e estimular o mercado.

A estimativa mais otimista mostra um aumento de 11% nas concessões, para R$ 50 bilhões. Neste ano, a projeção é que o mercado encerre com R$ 45 bilhões liberados para compra e construção de imóveis, segundo Gilberto Abreu, presidente da Abecip. O volume representa uma queda de mais de 60% ante o praticado em 2015.

Duas medidas recentes foram tomadas para tentar desafogar o crédito. O teto máximo do Sistema de Financiamento Habitacional (SFH), que dá acesso a juros menores, foi elevado de R$ 750 mil para R$ 950 mil no Distrito Federal e Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Nos demais Estados, o limite foi de R$ 650 mil a R$ 800 mil. Os limites estavam inalterados desde 2013.

Também foi permitido o financiamento de imóveis de até R$ 1,5 milhão pelo SFH, mas a medida foi limitada a um ano de duração e também não prevê o uso do FGTS para compor o valor de entrada do imóvel ou abater o financiamento.

Nas contas do coordenador do Núcleo de Real Estate da USP, João da Rocha Lima Jr., tanto o aumento do teto do SFH como a ligeira melhora da demanda dos consumidores não devem ser suficientes para provocar grande pressão no preço dos imóveis.

Segundo ele, com uma projeção de alta de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017, o valor do metro quadrado pode ter apenas uma leve alta.

A opinião é compartilhada pelo pesquisador Eduardo Zylberstajn, coordenador do índice de preços FipeZap.

“Talvez os preços terminem 2017 com um viés um pouco maior de alta, mas ainda perdendo para a inflação”, afirma. “Existe uma demanda constante por moradia apesar de todos os problemas da economia. Não é que os anos dourados voltarão, mas pode ser um ano mais positivo”, completa.

Três indicadores do mercado mostram que o preço dos imóveis ficou praticamente parado e variando menos do que a inflação em 2016. Na Abecip, o Índice Geral do Mercado Imobiliário Residencial, recém-lançado, mostra recuo médio de 2,3% em nove regiões do País.

Outros dois indicadores, o FipeZap, do site Zap e da Fipe, e DMI, ligado à plataforma VivaReal, mostram avanço de 0,45% e 1,45%, respectivamente, em 2016. Estas pesquisas são baseadas em anúncios na internet. Mesmo que os resultados pareçam divergentes, eles caminham, na verdade, para a mesma direção(leia mais na pág. ao lado).

Aluguel. O horizonte de retomada do mercado imobiliário é um alerta para quem ainda depende do aluguel. Tradicionalmente, o mercado de locação de imóveis tende a mudar seus preços mais rápido do que o de venda.

“Nos sinais iniciais de retomada, o aluguel volta a subir”, diz Vargas, do VivaReal.

No atual ciclo, isso foi benéfico para o consumidor porque os preços de aluguel caíram antes do valor de venda começar a ceder. Mas, quando a situação se inverter, quem está à procura de uma unidade para locar vai sentir esse efeito primeiro.

Dados do VivaReal mostram que a zona sul da cidade de São Paulo lidera em ofertas de locação de até R$ 2 mil. São mais de 14 mil unidades disponíveis em bairros como Morumbi, Jardim Marajoara e Vila Andrade, a maioria entre 50 e 70 metros quadrados.

Por Hugo Passarelli | De São Paulo - O ESTADO DE S. PAULO - 12/12/2016

Fontes diferentes podem gerar confusão na cabeça do comprador

Fontes diferentes podem gerar confusão na cabeça do comprador

Até poucos anos atrás, o Brasil tinha poucas pesquisas estruturadas e com divulgação periódica que apurassem o valor do metro quadrado dos imóveis. As iniciativas que existiam eram localizadas e se limitavam a uma cidade ou região metropolitana.

Hoje, o País conta com ao menos quatro índices de preços de alcance nacional, mas isso não significa que é tarefa descomplicada saber com precisão o preço de um imóvel. Isso acontece porque a informação sobre um empreendimento, qualquer que seja a fonte, acaba sempre tendo algum tipo de viés.

O índice mais antigo em atividade é o FipeZap, divulgado mensalmente desde 2011 e com histórico até 2008 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e o portal de classificados Zap. A pesquisa utiliza os anúncios de unidades novas e usadas para estimar a variação de três pontas importantes: imóveis residenciais, comerciais e de locação.

Por muito tempo a única referência, o FipeZap mostra claramente o boom e paradeiro do mercado imobiliário. Mas, por coletar as ofertas, pode muitas vezes superestimar, porque o valor anunciado costuma ser maior do que o transacionado.

Característica semelhante ocorre com o DMI (Dados do Mercado Imobiliário), do portal imobiliário VivaReal, que também usa o mesmo tipo de informação para construir o seu índice. Não por acaso, FipeZap e DMI oscilam em margens próximas, embora o segundo apresente variações mais bruscas mês a mês.

“Cada indicador é uma peça para montar a análise do todo. O importante é perceber a correlação entre eles para entender como está operando o mercado” afirma Eduardo Zylberstajn, pesquisador e coordenador do índice FipeZap.

No mês passado, a Abecip, associação que reúne as instituições financeiras que financiam a habitação com recursos da poupança, passou a divulgar o Índice Geral do Mercado Imobiliário – Residencial (IGMI-R).

Ao contrário do FipeZap e do DMI, o IGMI-R usa os laudos de avaliação dos imóveis financiados por bancos. Aqui, a tendência é oposta e uma das consequências é subestimar quanto valem os empreendimentos.

Oscilações. O Banco Central também adota metodologia semelhante para construir o Índice de Valores de Garantia de Imóveis Residenciais Financiados (IVG-R), que tem série histórica retroagindo a 2001. Em comparação com os demais indicadores, o IVG-R mostra oscilações muito mais intensas mês a mês, sugerindo que os preços estão retrocedendo a uma velocidade muito maior do que apontam seus pares. O indicador do BC também é divulgado com uma maior defasagem (o dado mais recente é referente ao mês de agosto).

“O IVG-R só divulga o dado consolidado, em âmbito nacional, o que acaba dificultando a análise, pois cada região ou cidade tem as próprias dinâmicas que influem no movimento dos preços. Esses detalhes acabam não sendo captados”, diz João da Rocha Lima Jr., coordenador do Núcleo de Real Estate da USP.

Por Cláudio Marques | De São Paulo - O ESTADO DE S. PAULO - 30/10/2016

Empreendimento Romi 56 construído no terreno da antiga fábrica da Romi-isetta

Empreendimento Romi 56 construído no terreno da antiga fábrica da Romi-isetta

Na cidade que cresce constantemente para os lados e para cima, muitas vezes dando nova destinação a áreas previamente ocupadas, incorporadoras criam projetos que ajudam a preservar a memória desses lugares reconfigurados.

O exemplo mais recente é o empreendimento Romi 56, da Vivenda Lare, localizado na Rua Coriolano, na Vila Romana, zona oeste de São Paulo. Lançado no último fim de semana, vai ocupar o terreno onde funcionou a Indústrias Romi. A empresa ficou nacionalmente conhecida por fabricar o primeiro veículo brasileiro em série, a minúscula Romi-Isetta.

Junto à fábrica, que transferiu suas atividades para o interior paulista, estava o prédio administrativo da Romi, que foi tombado em 2004 pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio (Conpresp). Por isso, a compra do terreno envolveu a preservação do edifício de arquitetura modernista projetado por Lúcio Grinover.

“Além de ser o escritório da Romi em São Paulo, o edifício também foi pensado para acomodar cursos e conferências para os operários e técnicos da empresa. Por isso, todos os andares foram planejados com lajes livres, sem divisões internas, para que houvesse espaços adaptáveis a qualquer uso”, conta Grinover em uma publicação da Vivenda Lare.

Diretora da incorporadora, Adriana Saleiros diz que o projeto prevê um retrofit interno no antigo edifício Romi,que seguindo as restrições do Conpresp, dará lugar a 50 lofts. Ao lado, diz ela, será erguido um edifício com 76 unidades de dois dormitórios com metragem de 67 m² ou 70 m².

“Esse terreno nos foi apresentado no meio do ano passado por uma comercializadora. As grandes construtoras estavam com receio de comprá-lo por causa do tombamento, mas nós encaramos o desafio de manter a fachada, o telhado, a parte original do edifício, que é de 1957. E vamos construir um prédio ao lado”, conta Adriana.

“Juntamos o tombamento com os 60 anos da primeira indústria que fabricou um automóvel em série aqui no Brasil, a Romi-Isetta, em 1956”, diz a executiva, referindo-se ao nome do empreendimento.
A diretora admite que a procura pelos lofts surpreendeu. “Acredito que por eles serem diferentes, terem uma história por trás, está ocorrendo ‘overbooking’. Não achávamos que a região fosse tão carente desse produto”, afirma.

Os lofts terão metragens de 27 m², 39 m², 41 m² e 55 m² e preço de R$ 13 mil o metro quadrado. Todos têm vaga de garagem. As unidades de dois dormitórios custam a partir R$ 10 mil/m². Todo o empreendimento, que tem projeto do arquiteto Paulo Lisboa, ainda oferece áreas de lazer e de convivência.

Segundo Adriana, o edifício foi projetado de olho no futuro. “Ele contempla estrutura para água de reúso, fechadura biométrica, ar-condicionado com placa solar, portaria inteligente, tomadas para carro e bicicleta elétricos, tomada USB nos apartamentos”, ressalta. “Sessenta anos se passaram e tudo ainda é muito contemporâneo.”

Multiuso. Outro empreendimento que compartilha o novo com o tradicional é o Praça Pamplona, que a Brookfield vai entregar ainda neste ano. A duas quadra da Avenida Paulista, na Rua Pamplona, na Bela Vista, o conjunto está localizado no terreno de um casarão da época dos barões do café que abrigava, desde 1952, a sede da Fundação Instituto de Física Teórica (IFT) da Unesp. Em 1958, o imóvel e o terreno passaram a pertencer à instituição. E nos anos 1980, o palacete foi tombado pelo patrimônio histórico.

“Em 2010 estávamos prospectando terrenos e surgiu a oportunidade para um edifício comercial na região da Paulista, o que na nossa visão fazia todo o sentido. Havia, porém, o desafio de fazer um projeto peculiar, que pudesse conservar e preservar da melhor maneira possível a essência que o terreno e o lugar já tinham”, conta o diretor de Incorporações da Brookfield, José de Albuquerque.

O terreno de 6.550 m² foi adquirido em fevereiro de 2011. Parte do pagamento, de acordo com o executivo, incluiu a conservação do casarão e permuta – o Instituto fica dono de uma parte das salas do prédio comercial . A instituição ainda ficará responsável pela operação do casarão e do teatro digital que também será entregue neste ano. E ainda receberá uma nova sede.

“Esse foi o negócio”, diz Albuquerque. “Mas a grande diferença com qualquer prédio comercial que fazemos é que ali será um grande centro de convivência e de pesquisas.” Ele destaca que o local tem “uma baita” área verde com árvores nativas.

Assim, o empreendimento é na verdade um complexo multiuso com torre comercial, teatro digital, centro de pesquisas, centro cultural e social (no antigo casarão) e uma Praça de Convivência. De acordo com Albuquerque, o valor médio das salas comerciais é de R$ 730 mil. As metragens disponíveis vão de 32 m² a 160 m².

A Brookfield tem em seu currículo um outro empreendimento levantado em um local marcado pela história: a casa Bandeirista, na Avenida Faria Lima, onde foi erguido o Pátio Malzoni. A empresa comprou o terreno, o último a ser ocupado naquela via, em conjunto com o grupo Vitor Malzoni, mas em 2010 vendeu sua parte para o grupo e se encarregou apenas de sua obra.

No local surgiu, em 2011, um empreendimento comercial de altíssimo padrão e com um projeto arquitetônico que permite ver da rua a pequena casa construída no século 17 entre as duas torres do conjunto, que se conectam por intermédio de um pórtico gigante. O imóvel era parte do sítio Itaí, que foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico (Condephaat) e passou por um processo de restauração durante as obras do conjunto, que teve de ser erguido a 10 metros de distância.

Com 20 andares, possui estação de tratamento de água e utiliza água de reúso. No entanto, enfrentou dificuldades para ser totalmente ocupado e chegou a ser colocado a venda no início do ano passado.
Em Perdizes, na zona oeste de São Paulo, um projeto imobiliário contribuiu para que o Colégio Batista superasse suas dificuldades e retomasse seu papel de destaque.

Em 2008, a instituição passava por dificuldades e decidiu vender parte do terreno que ocupava no quadrilátero formado pelas ruas Monte Alegre, Homem de Melo, Ministro Godoy e João Ramalho.
A Exto Incorporação e Construção se interessou pela oportunidade e se junto à Cyrela. Inicialmente, a área em negociação tinha em vista o principal bloco do colégio, de frente para a Rua Homem de Melo.

A transação chegou a ser fechada. No entanto, surgiu um movimento de moradores do bairro para que o prédio do colégio fosse preservado, o que culminou com a troca pela área contígua ao do edifício, ocupando uma parte do terreno que era menos aproveitada.

Nesse meio tempo, recorda o presidente da Exto, Roberto Matos, o prédio da instituição de ensino foi tombado. Ele diz que os arquitetos do empreendimento já tinham convencido o colégio de que derrubar o prédio não seria a melhor solução, independentemente do tombamento.

De acordo com Matos, para o então novo empreendimento, entregue em 2010, foi desenvolvido um projeto de modo a interferir o menos possível com o colégio. “Procuramos fazer uma interação com o colégio da forma mais sutil possível. Assim, toda divisão de área é feita com paisagismo, as quadras esportivas são vazadas com telas, para que não ficasse algo fechado, bloqueado”, conta.

O conjunto ocupa uma área de 3.361 m² na qual foram erguidas quatro torres em estilo neoclássico de oito andares cada, com dois apartamentos de alto padrão por pavimento, com metragem variando entre 266 m² a 567 m², dependendo da tipologia. Matos diz que a solução valorizou toda a área, inclusive o colégio, que a se recuperou da crise pela qual passava.

Os termos da negociação envolviam melhorias. “Fizemos novas quadras, cobertas, e revitalizamos o colégio Tombado, fizemos pequenas intervenções, de acordo com as orientações do Conpresp”, diz Mato

Por Ronda Kaysen | The New York Times/O ESTADO DE S. PAULO - 25/09/2016

Friends: apartamento onde viviam um barista e um chef era um ‘palácio’ de 2 quartos

Friends: apartamento onde viviam um barista e um chef era um ‘palácio’ de 2 quartos

O que eu adoro no studio de Marnie, da série Girls, da HBO, em Chinatown, é que eu tive um muito parecido, com chuveiro na cozinha e banheiro no closet. Antes de me mudar para lá, alguém pregou lençóis para esconder um teto horrível. Eu dividia o “um dormitório” em Little Italy com uma companheira de quarto, o que o tornava de certa forma como o studio de 23 m² de Marnie.

A grande diferença é que morei lá em 1999, quando todo mundo estava ocupado em ver Carrie Bradshaw em seu pitoresco apartamento no Upper East Side em Sex and the City. Lembram-se do closet, grande o bastante para andar nele? Qual o freelancer que tem um closet no qual dá para andar?

Mesmo então eu sabia que era absurdo. Mas podia me permitir acreditar, porque meus amigos ainda conseguiam morar em bairros como Williamsburg e Fort Greene, Brooklyn, onde os reveladores sinais da gentrificação – guindastes, restaurantes “da fazenda para a mesa” e aluguéis explodindo – ainda não tinham dominado.

A paisagem urbanística, porém, mudou tão profundamente nas duas últimas décadas, que essa geração de garotas socialites ocupa um tipo muito diferente de espaço. E é um espaço que continua encolhendo, razão pela qual Desi, o desafortunado marido de Marnie, levantou uma parede no meio do minúsculo studio para salvar seu ameaçado casamento. “Bem-vinda a seu novo apartamento de um dormitório”, disse ele, para horror da moça.

À medida que aluguéis cada vez mais altos espremem os jovens de Nova York, os apartamentos da televisão se tornaram mais ásperos, sujos, apertados. Quase mais ferozes.

Uma geração atrás, Carrie podia se queixar do tamanho do closet de um apartamento de US$ 2.800 mensais de aluguel num capítulo em que ela sai atrás de nova moradia após ter sido ameaçada de despejo. “Pago US$ 750 por algo que tem o dobro de espaço”, reclama ela. O corretor não se comove. Carrie, claro, tinha o que a maioria dos nova-iorquinos de então, como os de hoje, só podia sonhar: um apartamento com aluguel antigo.

Apartamento de Carrie tinha um amplo closet

Apartamento de Carrie tinha um amplo closet

Hoje temos Abbi, em Broad City, do Comedy Central, procurando apartamento com Pam, a corretora com um colar cervical. As opções de Abbi incluem “um lindo apartamento estilo vagão de trem que cabe em seu orçamento”, de um verde brilhante, sem banheiro, que pode na verdade ser um corredor. Mas é seguramente melhor que um outro, de paredes salpicadas de sangue. “Sabem a série de TV Friends?”, pergunta Pam, abrindo a porta com um canivete. “É aqui.”

O que Abbi encontra ao entrar é a antítese do apartamento de Friends: austero, sem alma e gritantemente branco, exceto, claro, pelo borrifo de sangue, restos de um possível duplo assassinato. “Mais boas notícias: as paredes são super grossas”, diz Pam.

Lembrando, o apartamento de Friends, compartilhado por um jovem barista e um chef que luta para vencer na profissão, era um palácio de dois quartos, com alegres paredes púrpura, no West Village. Mesmo em 1994, poucos de nós se iludiam com as fantasias de Friends, mas de qualquer forma continuávamos assistindo.

Realismo. A televisão ficou mais exigente desde então – espectadores esperam mais realismo. Bem, talvez esperem mais verdade. Mas basta se aprofundar um pouco e programas como Broad City e Girls contam uma história diferente da passagem para a idade adulta, uma história que transcorre à sombra da pior recessão econômica desde a Grande Depressão.

Os personagens dessas séries são parte de uma geração oprimida por empréstimos estudantis e salários estagnados. Unbreakable Kimmy Schmidt, da Netflix, não vive num lugar estilo parisiense, com sacada, em West Village. Coube a ela um apartamento cinzento, num conjunto habitacional, com acesso por escada, no extremo de Greenpoint, Brooklyn.

“As gerações mais jovens têm de encarar a realidade”, diz Lindsay T. Graham, psicóloga no Center for the Built Environment, da Universidade da Califórnia, em Berkeley. “Quando se veem séries em que os personagens vivem esse tipo de dificuldade, isso parece familiar.”

O acabamento sofisticado deu lugar à carregação. A mobília é gasta e manchada. As almofadas não combinam uma com a outra. “Se não tiver percevejo, está bom”, diz Angelique Clark, designer de produção de Broad City, contando como a série cuida da ambientação. As paredes foram pintadas inúmeras vezes, e não foi Abbi quem escolheu o verde-cor-de vômito do corredor de seu dois dormitórios em Astoria, Queens.

“Apenas tentamos captar uma Nova York que fosse mais realista para nosso objetivo”, disse Ilana Glazer numa entrevista ao lado de Abbi Johnson, que com ela criou e estrela Broad City. “Ficamos vidradas vendo o set de Friends. É como um cenário de teatro, de frente para a plateia.”

A inspiração para o studio de Marnie foi um apartamento em que o diretor de arte da série morou uma vez de aluguel. “As pessoas veem e dizem ‘puxa, tive um apartamento como esse’”, avalia Matt Munn, designer de produção de Girls.

A nova realidade nos leva a The Holdouts, uma série da internet sobre um cara ranzinza chamado Kevin, que mora num apartamento dilapidado, de aluguel antigo, no bairro Hell’s Kitchen. A série é descrita como “uma comédia sobre nova-iorquinos que não aguentam mais o custo de vida em Nova York”.

A ideia parece que tocou num nervo exposto. Levou menos de um mês para os criadores levantarem US$ 35.790 no site Kickstarter, em junho, para começar a produção. A filmagem começa neste mês e já no próximo mês poderemos ver o piloto, no qual Kevin resiste às propostas do proprietário para que se mude. “Kevin vive no passado”, diz um dos criadores da série. “Dá vontade de dizer ‘cara, deixa pra lá, cai fora’.” / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

Por Márcia Rodrigues | De São Paulo - O ESTADO DE S. PAULO - 18/09/2016

12Quem já mudou de casa ao menos uma vez na vida, sabe os transtornos que esse processo causa. A começar pela escolha de uma empresa de transporte passa pelo planejamento, inclusive de gastos, e chega à logística envolvendo a mudança propriamente dita.

O preço cobrado pelas empresas de mudança podem partir de R$ 2.500 na capital paulista em empresas tradicionais e de grande porte. Por isso, a designer Sara Gabriele de Oliveira pesquisou o preço de um serviço de carreto em vários sites, quando resolveu mudar de um apartamento na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo, para outro imóvel no mesmo bairro, ela resolveu pesquisar o preço de um carreto em vários sites que atuavam na região. Um cobrou R$ 450 e outro R$ 700. Ambos tinham adicional de R$ 10 por patamar que precisasse carregar os móveis.

“Eu ia sair de um prédio de três andares sem elevador para outro com seis andares, o serviço ia sair uma fortuna. Eu comentei com o pessoal do trabalho e me indicaram um senhor que cobraria R$ 250 para fazer o carreto, sem adicionais. Por fim ele e os ajudantes foram tão bacanas e prestativos que acabei pagando R$ 350 mais o almoço.” (Mais informações de preços de mudanças no texto abaixo)
Além da procura pelo melhor preço e a mudança requer muito trabalho e organização. Por isso, planejar cada etapa com antecedência pode facilitar, e muito, a vida de quem vai passar por essa experiência. De acordo com a personal organizer Gisele Bonaroski, o ideal é que a preparação inicie um mês antes. “Nem tudo o que está dentro de casa é utilizado com frequência. Dá para separar o que é pouco usado e começar a empacotar.”

O primeiro passo é comprar caixas de papelão ou pedir usadas em supermercados ou lojas. Depois, é interessante reservar um cômodo para ir colocando tudo o que já foi empacotado. “É importante empilhar as caixas divididas por cômodos para facilitar a organização quando chegar na outra casa.”
Gisele orienta a não misturar artigos diferentes na mesma caixa, mesmo que sobre espaço. “Reserve uma caixa para colocar todos os pratos, outra para os copos, talheres, panelas, formas, travessas e assim por diante.” Itens que podem ser quebrados devem ser embalados com sacos bolha.

É recomendado, nesse processo, também identificar as caixas. “A anotação deve vir em cima da caixa para facilitar a visualização. Coloque o cômodo correspondente e o que tem dentro.”
Na semana que antecede a mudança, é evite comprar mantimentos perecíveis para facilitar o transporte. “Deixe na geladeira apenas os alimentos que serão consumidos nos próximos dias.” Desligue a geladeira na noite anterior para reduzir as tarefas no dia da mudança.

Segundo Gisele, a mudança também é uma oportunidade para descartarmos o que não é mais usado ou o que está quebrado ou rasgado. “Sempre deixamos roupas e outros artigos num canto guardados, dizendo que um dia poderemos usar”, diz. “A mudança é uma chance para nos desapegarmos e deixarmos a casa mais leve.” Ela recomenda que peças em bom estado sejam doadas e o que não tem mais serventia, seja enviado para reciclagem, ou que simplesmente seja jogado fora.

Quando o caminhão encostar no outro imóvel, é importante separar as caixas para serem colocadas diretamente no cômodo correspondente. “Esta atitude vai facilitar muito a organização posteriormente.”
O ideal, de acordo com Gisele, é que a arrumação comece pela cozinha. Mesmo que o plástico bolha seja novo, é importante, argumente a profissional, lavar todos os itens que foram embalados com ele antes de guardá-los.

A orientação é, depois de arrumada a cozinha, começar a organizar o quarto, já que, depois de um dia cansativo, um noite de sono em um quarto arrumado cai muito bem. “Limpe os armários, cômodos e sapateiras por dentro e por fora, pendure as roupas de cabide e arrume as gavetas, prateleiras e sapateiras.”

A partir daí, diz Gisele, a pessoa deve organizar-se para arrumar um cômodo por vez e que essa fase não ultrapasse 15 dias. “Depois desse período, as caixas que ainda não foram desfeitas começam a atrapalhar a rotina da casa e provocam ansiedade nos moradores.”

Oito conselhos

Planejamento
A preparação deve começar um mês antes. Planejar cada etapa com antecedência facilita todo o processo
Caixas de papelão
Podem ser adquiridas em supermercados ou pedir usadas em lojas e mesmo em mercados
Espaço separado
Reserve um cômodo ou espaço da casa de onde vai sair a mudanças para ir colocando tudo o que vai sendo empacotado durante esse mês
Empilhamento
Quem trabalha no ramo aconselha que as caixas sejam empilhadas de acordo com os cômodos que seus conteúdos se destinam no novo imóvel
Sem mistura
É aconselhável não misturar produtos diferente em uma mesma caixa. Por exemplo, deixe uma somente para pratos, outra só talheres, outra só para roupa de cama de um quarto etc,
Identificação
É imprescindível identificar o conteúdo das caixas e o cômodo a que esse conteúdo se destina. A identificação deve estar na parte superior das caixas
Separação
Colocar as caixas no caminhão de mudança de acordo com o cômodo a que se destinam
Na nova casa
O ideal e começar a arrumação pela cozinha. Depois, pelo seu quarto. A partir de então, organize-se para arrumar um cômodo por dia, desde que não ultrapasse uma semana.

Por Circe Bonatelli | De São Paulo - O ESTADO DE S. PAULO - 14/09/2016

As vendas em julho totalizaram 8 mil unidades, recuo de 7,1%

As vendas em julho totalizaram 8 mil unidades, recuo de 7,1%

O mercado imobiliário nacional teve uma alta expressiva nos lançamentos em julho, embora o setor ainda continue pressionado pela queda nas vendas e por uma quantidade elevada de distratos, de acordo com pesquisa realizada pela Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). A pesquisa considera dados fornecidos por 19 incorporadoras de grande porte, com presença em diversas regiões, e associadas à Abrainc.

Os lançamentos de imóveis em julho de 2016 atingiram 2,3 mil unidades, alta de 92,5% em relação ao mesmo mês do ano passado. A oscilação acentuada ocorreu devido à comparação com uma base muito fraca, já que julho de 2015 teve apenas 1,2 mil unidades lançadas, patamar mais baixo no biênio. Já as vendas em julho totalizaram 8,0 mil unidades, recuo de 7,1% na comparação com o mesmo mês do ano passado.

No acumulado dos sete primeiros meses do ano, os lançamentos totalizaram 33,9 mil unidades, crescimento de 13,8% em relação aos mesmos meses do ano passado. As vendas chegaram a 57,8 mil unidades, queda de 13,0% na comparação entre os mesmos períodos.

O estoque de imóveis disponíveis para comercialização no fim de julho totalizou 116,4 mil unidades, o que representa uma leve diminuição de 0,8% em relação a junho e alta de 6,7% em relação a julho do ano passado.

A velocidade de vendas - que considera o número de unidades comercializadas ante o estoque total - foi de 6,7% em julho, queda de 1,6 ponto porcentual em relação a junho. Com essa liquidez, seriam necessários 15 meses para realizar a venda integral desse estoque.

De acordo com a pesquisa da Abrainc/Fipe, 4,3 mil unidades tiveram as vendas canceladas em julho, queda de 15% frente ao mesmo mês do ano passado. Já as entregas de empreendimentos totalizaram 8,3 mil unidades, recuo de 14,3% na mesma base de comparação.

Por Heraldo Vaz | De São Paulo - O ESTADO DE S. PAULO - 01/09/2016

Vista aérea The Point, em Santana

Vista aérea The Point, em Santana

Neste 22º Master Imobiliário, a Brookfield levou dois prêmios na categoria Empreendimento. Um pelo New Way, com 399 apartamentos, no Glicério, região central de São Paulo, e outro pelo empresarial Worldwide Offices, com 75 mil m² de área construída, no Rio de Janeiro.

A comissão julgadora diz que o residencial iniciou a transformação da Baixada do Glicério. Com 25 andares e área de lazer, renova uma região degradada.

Para o júri, o Worldwide eleva o patamar de empreendimento comercial no Centro Metropolitano da Barra, zona oeste da cidade do Rio. A Brookfield foi a única empresa que conquistou dois troféus neste ano.

Promotores do evento, o Sindicato da Habitação (Secovi) e o capítulo brasileiro da Federação Internacional Imobiliária (Fiabci) esperavam reunir 1.400 convidados na festa de premiação, ontem no Clube Monte Líbano. “É um momento de celebração que já faz parte do calendário de São Paulo e do País”, afirma o presidente do Secovi-SP, Flavio Amary. “É a redenção do empreendedor”, diz o presidente da Fiabci Brasil, Rodrigo Luna. “Apesar das dificuldades, vemos cases maravilhosos.”

Dois empreendimentos comerciais foram consagrados. A Eztec com o EZ Towers, “um marco na paisagem urbana de São Paulo”, segundo o júri, que destacou o arrojo das duas torres e os cuidados com o meio ambiente. Em Brasília, PO700, com lajes corporativas e lojas, também mereceu destaque pela preservação ambiental.

Em Santana, zona norte da capital, o multiuso The Point, da Sabel Incorporadora e Labat Construtora, ganhou prêmio de residencial e comercial.

Com vendas da Frias Neto, o Timboril foi a estreia da Construtora Adolpho Lindenberg em Piracicaba (SP). Ganhou o troféu de residencial, com 125 apartamentos de alto padrão.

O retrofit do Studio Avanhandava, no centro de São Paulo, transformou prédio de escritórios em residencial, com 126 estúdios, onde funcionou o tradicional restaurante Gigetto.

Completa a lista de oito premiados na categoria, o Paranoá Parque, da Direcional. Construído em Brasília, por meio da programa Minha Casa Minha Vida, numa área de 1,5 milhão de m², têm 390 edifícios, com 6,2 mil unidades de dois dormitórios.

Escolha dos contemplados é feita por maioria de votos

Fachada do Clube Monte Líbano, onde foi realizada a entrega dos prêmios – Foto: Divulgação/Secovi/Fiabci

Fachada do Clube Monte Líbano, onde foi realizada a entrega dos prêmios – Foto: Divulgação/Secovi/Fiabci

Com os 18 trabalhos eleitos este ano, a galeria dos vencedores do Master Imobiliário agora soma 358 cases premiados desde sua primeira edição em 1995. Formada por especialistas, uma comissão escolheu os contemplados por maioria de votos. Sete entidades do setor imobiliário e de áreas vinculada julgaram mais de 50 cases inscritos nas duas categorias de premiação: Empreendimento e Profissional.

Na primeira, venceram edificações prontas, que se destacaram nas áreas de retrofit, uso misto, habitação econômica e renovação urbana, entre outros critérios técnicos.

Na categoria Profissional, foram contemplados trabalhos que apresentaram, por exemplo, aumento de produtividade, soluções arquitetônicas que agregam valor ao produto e visão empresarial, além do sucesso em vendas com dois prêmios para moradia de baixa renda.

A construtora Atua, com o In Parque Belém, em São Paulo, lançou três prédios com habitação de interesse social (HIS) e um com habitação de mercado popular (HMP). Segundo o júri, foram vendidos 743 apartamentos em quatro dias. A Cury Construtora lançou o residencial Dez Zona Norte, no Irajá, bairro do Rio de Janeiro, com preço encaixado no programa Minha Casa Minha Vida. “Todas as 484 unidades foram vendidas em um único fim de semana”, diz o voto da comissão julgadora.

A remodelação do edifício Brazilian Financial Center, sede do antigo Banco Real, com seus arcos e fachada de granito na Avenida Paulista, premiou o Fundo Imobiliário BC Fund e a Five Steel Engenharia. Para o júri, esse retrofit “resgata um empreendimento para uma nova geração da Paulista”.

A Gamaro e a Rocontec levaram o troféu de soluções arquitetônicas pelo Seed Gamaro, um projeto de 20 andares, na Vila Olímpia, com terraços intercalados, entre um andar e outro, que vão permitir plantar árvores de até 5 metros de altura.

A sinergia da construtora Conx com a Votorantim Cimentos aumentou a produtividade. O júri premiou a parceria entre a consumidora e a produtora de matéria-prima por qualificar os processos e desenvolver novas técnicas construtivas.

A Carvalho Hosken S/A ganhou prêmio de “visão e ousadia na viabilização do Centro Metropolitano da Barra”, no Rio. Em área de 4 milhões de m², a empresa implanta um bairro planejado que já conta com hotel internacional, shopping center e edifícios comerciais.

Publicidade e relacionamento com cliente são mais dois prêmios deste ano. A campanha Imóvel é no Estadão, feita pela Archote em parceria com o Estado, valorizou a compra de um aparamento em contraponto às campanhas que focavam apenas “liquidação de estoques”. E a BKO Incorporadora com seu Club Prime premia a fidelidade dos clientes que adquiriram imóveis em mais de um empreendimento da empresa.

O processo de seleção é “totalmente independente”, diz o presidente de honra da comissão julgadora, Miguel Sergio Mauad, que também é o diretor da SMDI – Sergio Mauad Desenvolvimento Imobiliário. Há seis anos consecutivos, Mauad é o presidente do júri. Nesta edição, ele fez questão de destacar os prêmios para dois livros que contribuem para a qualificação dos profissionais do setor.

Obra de Caio Calfat, Hotelaria e desenvolvimento urbano em São Paulo – 150 anos de história, analisa empreendimentos que se tornaram marcos do segmento no passado e os ícones da atualidade. O livro de Carlos Pinto Del Mar, Direito na Construção Civil, trata de temas relevantes da Norma de Desempenho.

As entidades com representantes na comissão julgadora do Master são o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo(Sinduscon-SP), a Associação Brasileira de Agências de Publicidade(Abap), o Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento de São Paulo (IAB-SP), as associações brasileira dos Escritórios de Arquitetura (Asbea) e das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), o Instituto de Engenharia (IE), e a Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).

Por Larissa Féria | De São Paulo - O ESTADO DE S. PAULO - 20/08/2016

11Depois da forte desaceleração nos últimos dois anos, em meio à economia fraca e à crise política, as construtoras e incorporadoras parecem ter deixado para trás o pior momento e começam a retomar lançamentos em regiões mais valorizadas. Com metro quadrado a R$ 11,8 mil, em média, a zona oeste de São Paulo foi afetada pela crise. Neste ano, porém, as empresas investiram em diferenciais que vão desde a concepção da planta até serviços agregados, como a área de lazer e acabamento, e conseguiram obter bons resultados.

Das 44 unidades lançadas em março do Vista Pompeia, da REM Construtora, 31 foram vendidas. Com um preço médio de R$ 9,5 mil por metro quadrado, os apartamentos com três dormitórios medem 152 m², têm três vagas e depósito.

“Ainda há muito dinheiro no mercado, o que falta é coragem”, afirma o diretor de incorporação da REM, Rodrigo Mauro. “Se o cliente vê oportunidade, acaba comprando.”
Outros dois apartamentos entregues pela REM no início do ano, o Verone Perdizes e o Perdizes Parque, tiveram apenas três distratos juntos.

“Não podemos reclamar da crise, porque temos um estoque baixo”, declara Mauro, ao comentar que a região é carente de lançamentos. “Fazendo um produto bem feito, com preço justo, vende”, afirma.

Absorção. Outro destaque foi o Place Madalena, da Trisul. Em dois meses de lançamento, foi comercializada metade das unidades de um dormitório (47 m²) e de dois dormitórios (66 m²). O preço médio é de R$ 11.800/m². “Temos 50% do prédio vendido e uma absorção muito grande de moradores tanto de Perdizes quanto da Vila Madalena e Pompeia”, afirma coordenador de marketing e inteligência de mercado da Trisul, Lucas Araújo.

Para atrair os clientes, a empresa apostou em novas tecnologias e áreas de lazer funcionais, que barateiam a taxa de condomínio, com reúso de água nas áreas comuns e medidor individualizado.

Lei da oferta. Para o presidente da Brasil Brokers São Paulo, José Roberto Federighi, com uma farta oferta de comércio e serviço, esses bairros estão entre os mais procurados. “Há demanda”, argumenta, citando como exemplo o Vista Pompeia. “É um produto que fazia tempo que não era lançado na região.” Também destaca o Place Madalena, a 100 metros do metrô, “muito bem localizado”.

A You Inc tem novidades na zona oeste. Situado na Rua Cardeal Arcoverde, o You Pinheiros tem apartamentos de dois e três dormitórios, com 51, 58 e 69 m². Lançado em dezembro último, tem preço médio é de R$ 11 mil/m². Já o You Estação Madalena, lançado em maio deste ano, possui apartamentos de dois e três dormitórios, com área de 56 e 67 m².

“A zona oeste tem ótima aceitação e atrai um público bem diversificado, de solteiros, divorciados e jovens casais, a idosos que precisam de um lugar menor e mais seguro”, afirma o diretor comercial da You Inc, Felipe Coelho. “Produtos que são lançados com projeto, localização e preço certos têm bom desempenho de venda.”

Previsto para ser entregue em abril de 2017, o You Barra SP, na Barra Funda, conta com apartamentos de dois e três dormitórios, com 62 e 48 m².

Preços. Com poucos lançamentos em 2015, o estoque se estabilizou e não faz tanta pressão sobre o preço dos lançamentos, segundo Araújo, da Trisul. Para ele, essa interferência depende tanto da qualificação do estoque quanto dos diferenciais do lançamento. “Voltamos nossos lançamentos para produtos com conceito e demanda reprimida”, diz. “Não sentimos tanto os efeitos dos preços dos estoques.” O sucesso do Place Madalena, segundo ele, é exemplo.

A pressão pode acontecer com plantas de andar baixo ou face sul, sem sol. “Para os lançamentos que não conseguem uma boa largada de vendas, esta pressão ocorre porque os incorporadores precisam baixar os preços para deixá-los competitivos”, afirma Coelho, da You Inc.

Por Circe Bonatelli | De São Paulo - O ESTADO DE S. PAULO - 19/08/2016

Mercado imobiliário nacional teve queda nos lançamentos e nas vendas em junho

Mercado imobiliário nacional teve queda nos lançamentos e nas vendas em junho

O mercado imobiliário nacional teve queda nos lançamentos e nas vendas em junho, ainda pressionado por volume elevado de distratos, de acordo com pesquisa realizada pela Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). A pesquisa considera dados fornecidos por 19 incorporadoras de grande porte, com presença em diversas regiões, e associadas à Abrainc.

Os lançamentos de imóveis em junho atingiram 10,2 mil unidades, queda de 10,9% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Já as vendas chegaram a 10,3 mil unidades, recuo de 10,8% na mesma base de comparação.

No acumulado dos seis primeiros meses do ano, os lançamentos totalizaram 31,6 mil unidades, crescimento de 10,4% em relação aos mesmos meses do ano passado. As vendas chegaram a 49,8 mil unidades, queda de 13,9% na comparação entre os mesmos períodos.

O estoque no fim de junho totalizou 117,5 mil unidades, o que representa alta de 2,3% em relação a maio e alta de 10,3% em relação a junho do ano passado.

A velocidade de vendas - que considera o número de unidades comercializadas ante o estoque total - foi de 8,3% em junho, expansão de 1,1 ponto porcentual em relação a maio e queda de 1,4 ponto porcentual em relação a junho do ano passado. Com essa liquidez, seriam necessários 12,1 meses para realizar a venda integral desse estoque.

De acordo com a pesquisa da Abrainc/Fipe, 3,8 mil unidades tiveram as vendas canceladas em junho, aumento de 0,4% frente ao mesmo mês do ano passado. Já as entregas de empreendimentos totalizaram 17,7 mil unidades, alta de 39,3% na mesma base de comparação.

Balanços. O foco das incorporação imobiliária no restante desse ano seguirá no corte de despesas gerais e administrativas, esforços para comercialização dos estoques, prioridade à liquidez e cautela na oferta de novos projetos. Tal cenário se desenha depois que as principais companhias tiveram queda no lucro ou aprofundamento do prejuízo no segundo trimestre, afetadas pelo menor volume de vendas e pela persistência de distratos elevados devido à escassez de financiamento.

Além disso, durante a temporada de apresentação dos balanços, empresários disseram não ter clareza se a recuperação do mercado imobiliário está próxima. As dez maiores incorporadoras listadas na Bolsa tiveram, juntas, uma receita líquida de R$ 3,3 bilhões no segundo trimestre de 2016, queda de 34,8% em relação ao mesmo trimestre de 2015. As companhias apresentaram, ao todo, um prejuízo líquido de R$ 753,3 milhões no segundo trimestre, revertendo o lucro líquido de R$ 208 milhões do mesmo período de 2015.

Por Márcia Rodrigues | De São Paulo - O ESTADO DE S. PAULO - 08/08/2016

Síndico, Sandro Gonçalves

Síndico, Sandro Gonçalves

Ter uma administração de condomínio transparente, de acordo com administradores, envolve a boa gestão das obras de conservação e manutenção, prestação de contas (gastos fixos e variáveis), recolhimento de impostos e criação de uma reserva para eventuais emergências.

No entanto, tão importante quanto a boa gestão é o acesso aos dados. “A comunicação é fundamental para garantir que todos saibam as necessidades e o que está acontecendo no condomínio”, diz Rosely Schwartz, professora do curso de administração de condomínio da Escola Paulista de Direito.

De acordo com ela, um dos erros mais comuns registrados na gestão de condomínios é a falta de distribuição do demonstrativo mensal das contas e da receita. “Todos os condôminos, independentemente de ser dono ou inquilino do imóvel, têm o direito de receber o demonstrativo todos os meses. Isso está previsto na lei do inquilinato”, afirma.

Rosely afirma que todas as despesas merecem o mesmo tratamento na descrição no balancete mensal. E, muitas vezes, é feito o pagamento de algum produto ou serviço e não é apresentado o comprovante adequado. “Em qualquer compra, mesmo que pequena, deve ser solicitada a nota fiscal. Alguns síndicos costumam anexar na pasta de documentos o comprovante do saque feito com o cartão de débito, mas não detalham o que foi comprado. Isso é um erro.”

Segundo a professora, se o prestador de serviço não tiver nota fiscal para apresentar, o condomínio deve emitir o documento em nome dele, com o seu CPF, e recolher o Imposto sobre Serviço (ISS) e a contribuição para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) sobre o valor da nota. O condomínio, determina a lei, tem CNPJ e é responsável por essa obrigação tributária. “O síndico pode responder judicialmente por isso.”

Para facilitar o controle dos recolhimentos de impostos, entrada de receita, gastos fixos e variáveis, entre outros, a professora recomenda que o síndico abra uma pasta para cada mês do ano para guardar todos para apresentar na assembleia anual e consultar sempre que necessário. “Algumas administradoras costumam digitalizar os documentos e deixá-los à disposição no site para conferência. Basta digitar a sua senha para acessá-los. Os condomínios que não têm administradora podem criar um informativo e colocar nas áreas comuns do prédio.”

Outra falha frequente é realizar obras e rateios sem a aprovação de assembleia. “Essa prestação de conta está prevista na convenção do condomínio e não pode ser decidida sem passar pela análise dos moradores. Eles precisam estar de acordo.”

Segundo o advogado Alexandre Berthe, muitos síndicos e administradoras optam por contratar uma auditoria para fazer o controle mensal das contas do condomínio. “Alguns síndicos veem a prática com receio, acreditam que a medida é um ato de desconfiança da sua atuação. Na verdade, é uma forma de auxiliá-lo a manter a transparência da sua gestão, e apontar possíveis erros logo de início para serem corrigidos antes de se tornarem um problema maior.”

Hubert Gebara, diretor do Grupo Hubert, administrador de condomínios, acredita que o próprio conselho de moradores pode atuar como auditor das contas. “Não há muito segredo nesse tipo de análise. O conselho pode assumir a responsabilidade do serviço e passar as informações para os demais moradores”, a firma.

Selo de qualidade. A Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios (Aabic) e o Sindicato da Habitação (Secovi) criaram, no ano passado, o Programa de Autorregulamentação da Administração de Condomínio (Proad) para avaliar o desempenho das administradoras de condomínios no cumprimento de uma série de serviços.

O presidente da Aabic, Rubens Carmo Elias Filho, diz que são avaliados mais de 180 procedimentos. Qualquer empresa pode se inscrever para passar pela auditoria e receber o selo de qualidade. Em quase um ano de atuação, 20 empresas foram credenciadas, segundo ele.

“O programa é muito rígido. A empresa que se inscreve sabe que passará por um critério rigoroso de avaliação.”

Vazamento. Depois de morar por quase 30 anos no mesmo empreendimento, o empresário Paulo Pestana, de 52 anos, resolveu se candidatar ao cargo de síndico por não concordar com atitudes de gestão anterior. Sua primeira missão foi interromper um vazamento na garagem que, segundo ele, vinha sendo postergado há anos.

“Era um problema de impermeabilização, mas o síndico só pensava em encher de calhas para não fazer a obra. Quando chamei o engenheiro para avaliar a situação, ele me disse que em dois anos a garagem iria desabar”, afirma.

Pestana diz que hoje, na sua gestão, todas as obras são discutidas com os moradores de forma clara e resolvidas logo, tudo dentro do orçamento. “Apareceu um problema, tem de correr atrás, fazer orçamento, escolher o menor valor e resolver o quanto antes. Não adianta colocar fita isolante no fio, mais cedo ou mais tarde você terá de trocar a fiação e o serviço pode ficar bem mais caro.”

Com as contas e as obras em dia, o condomínio pode conseguir agregar produtos e serviços para facilitar a vida dos moradores, segundo os especialistas. É o caso do empreendimento do administrador de empresas Sandro Gonçalves, 45 anos. Ao assumir o cargo de síndico, ele conta que não encontrou problemas de caixa.

“Todas as nossas contas são auditadas, nossa gestão respeita todas as regras estabelecidas pela convenção e as nossas contas são acessíveis no site da administradora.”

Mesmo com tudo em ordem, Gonçalves diz que optou por assumir o comando para melhorar a comunicação e a qualidade de vida dos moradores.

Dados abertos. “Eu sentia falta de mais informação sobre o andamentos das coisas, por isso, investi na melhora da comunicação. Criei uma página fechada no Facebook para os moradores e coloco informação sobre tudo o que está acontecendo lá: andamento das obras, novos serviços que serão oferecidos aos moradores, prestação de contas, entre outros.”

Gonçalves diz, também, que o bairro onde fica o condomínio é novo e, até pouco tempo atrás, abrigava muitas fábricas. Por conta disso, há pouca opção de serviço no entorno. “Para facilitar a vida dos moradores, nós trouxemos alguns serviços para o condomínio, entre eles, feira livre, serviço de açougue, pet shop móvel e salão de beleza. Cada um deles é oferecido em um dia da semana.”

Profissionais envolvidos na administração de condomínio e síndicos e são unânimes ao abordar a importância da participação dos moradores nas reuniões de condomínio.

“Nas assembleias são definidos assuntos de extrema relevância, que afetam diretamente a vida dos moradores, e grande parte dos condôminos não sabe o que acontece”, afirma Hubert Gebara, diretor da administradora de condomínios Grupo Hubert .

De acordo com o advogado Alexandre Berthe, é necessário incentivar os moradores a terem consciência do que acontece no seu condomínio participando das discussões nas convenções e assembleias.
“Eles precisam ler a convenção, o regimento interno e saber a respeito de todas as decisões das assembleias.”

Rosely Schwartz, professora do curso de administração de condomínio da Escola Paulista de Direito, orienta os condôminos a estudarem todos os balancetes mensais antes de irem à assembleia anual.

Por dentro. “Mesmo que o síndico apresente todas as pastas com os documentos referentes a cada mês de forma detalhada, é impossível conferir tudo durante a reunião. Por isso, é fundamental estudar todos os números antes. Assim, você já chega sabendo sobre o que está sendo discutido”, defende.

Durante as reuniões também é importante que a exposição dos números , problemas, serviços e obras realizados seja feita de forma transparente.

“Use slide com fotos que demonstrem o antes e o depois do serviço ou da obra realizada. Também é bom adotar gráficos para apontar a receita e o montante dos gastos”, diz Rosely.

O orçamento estabelecido para o exercício daquele ano também deve ser cumprido. “Não adianta adotar um valor que vai agradar a todos. Se foi previsto R$ 10 mil, por exemplo, a gestão deve fazer com que esse valor seja suficiente para todos os gastos do ano, inclusive, para a formação da reserva para eventuais imprevistos”, afirma a professora.